quinta-feira, 26 de junho de 2008

Clonar animais extintos é possível...


... MAS IMPROVÁVEL, SUGEREM ESTUDOS!


Mesmo que DNA aparentemente intacto exista, alterações são quase irreversíveis. Além disso, clonagem em si é arriscada; por enquanto, só sorte permitirá feito.
Devagar e sempre, a biologia molecular está chegando cada vez mais perto do sonho de recriar um animal extinto.

O último feito do tipo, anunciado nesta semana, envolveu o tigre-da-tasmânia (Thylacinus cynocephalus), uma espécie de lobo marsupial da Austrália que desapareceu por causa da caça indiscriminada nos anos 1930.

Pesquisadores americanos e australianos usaram tecidos do animal com um século de idade para extrair trechos do DNA do bicho. Depois, inseriram esse material genético -- um regulador da formação de cartilagens -- em camundongos. Após sete décadas, o DNA dos tigres-da-tasmânia voltava a funcionar.

A pergunta é: dá para ir além?
Para tentar ressuscitar o animal, seria preciso primeiro obter a seqüência completa de seu material genético. Depois, bastaria "contrabandear" esse pacote de DNA para o interior do óvulo de uma espécie aparentada cujo material genético foi retirado. (O famoso demônio-da-tasmânia, que inspirou o personagem Taz, poderia desempenhar esse papel de "doador").

O passo seguinte é fundir os dois elementos e implantar o embrião resultante numa mãe de aluguel. Algum tempo depois, teríamos um bebê-tigre-da-tasmânia redivivo.

A coisa não é nem de longe tão simples assim, no entanto.

O primeiro problema quase insuperável a enfrentar é a degradação natural que as moléculas de DNA sofrem logo após a morte de qualquer ser vivo, e que continua a afetar os tecidos mortos preservados em álcool ou formol nos museus (caso das amostras existentes de tigres-da-tasmânia, principalmente fetos e bichos empalhados).


O DNA é um bocado instável. Com o passar do tempo, as longas seqüências de "letras" químicas A, T, C e G (são nada menos que 3 bilhões de pares delas em genomas como o humano) tendem a se despedaçar e a perder ou ganhar átomos. Os pesquisadores estão descobrindo que essas transformações são relativamente regulares -- algumas "letras" tendem mais a virar um tipo de composto do que outros --, mas probabilísticas.


O que isso significa? Que você nunca vai ter certeza absoluta de que aquele pedaço degradado de DNA era originalmente um T ou um C, por exemplo. E nem de como montar o quebra-cabeças dos fragmentos num todo correspondente ao genoma original do bicho que você quer ressuscitar. E algum grau de reconstrução sempre é necessário, porque é altamente improvável que nenhum dos genes do animal extinto tenha se degradado.


Neandertais e mamutes

O mesmo vale para outras criaturas extintas que alguém poderia desejar clonar, como os neandertais, primos da humanidade desaparecidos há 30 mil anos, ou os mamutes, desaparecidos há 10 mil anos na maior parte da Eurásia.
O problema seguinte é, claro, a mãe de aluguel e os óvulos dela. Nos três casos -- mamutes, neandertais e lobos-da-tasmânia -- existem parentes próximos disponíveis (elefantes asiáticos, humanos e diabos-da-tasmânia). O problema é que os óvulos, mesmo sem material genético do núcleo, carregam informações que são importantes para o desenvolvimento correto dos embriões.
Usar células maternas de uma espécie diferente pode mandar esse equilíbrio delicado para o espaço e comprometer o embrião. (Pode, não deve: mães de aluguel de espécies diferentes da do embrião já foram capazes de dar à luz sem muitos problemas.) O caso dos tigres-da-tasmânia tem um problema extra: filhotes de marsupial nascem ainda em estado quase fetal, e passam o resto de seu desenvolvimento mamando nas tetas maternas que ficam na bolsa, ou marsúpio, igual à dos cangurus.

Ninguém sabe o que aconteceria se uma "mãe de aluguel" fosse induzida a amamentar os bichinhos. Pode muito bem ser que ela os coma.
Mas a clonagem em si é um obstáculo sério. Por uma série de motivos que a ciência ainda está elucidando, só uma pequena porcentagem dos embriões oriundos do processo -- algo entre 1 e 100 e 1 em 200 para as espécies bem estudadas -- chega a nascer. E, se nasce, tem problemas de saúde graves e morre cedo.
Por tudo isso, ainda vai ser necessário entender muito melhor as complexidades do genoma antes que seja possível tentar a clonagem de um tigre-da-tasmânia com alguma chance de sucesso. Outra discussão importantíssima, obviamente, envolve questões éticas: até que ponto é válido colocar em risco a vida de uma rara fêmea de diabo-da-tasmânia só para ver o bichinho nascer? E é certo trazer de volta ao mundo um bicho que não tem mais parentes ou potenciais parceiros reprodutivos? Não se pode esperar que a ciência, sozinha, solucione esses dilemas.

FONTE: O Globo

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