Cães e gatos morrem diariamente por chumbinho. Conheça a origem dessa substância e como manter seus animais a salvo.
Freqüentemente ouve-se depoimentos de pessoas que tiveram seus animais mortos com chumbinho. Habitual causa de óbitos entre animais de estimação e responsável por milhares de entradas em setores de emergência de faculdades e clínicas, esse veneno – na forma do aldicarbe (um carbamato) – é o principal componente do Temik 150, um agrotóxico produzido pela Bayer, multinacional de origem Alemã.
O produto - caracterizado por grânulos pretos - é proibido em diversos países, incluindo a própria Alemanha, e só poderia ser vendido em estabelecimentos credenciados, com receita emitida por um profissional agrônomo e em sacos de 20kg. No entanto, é facilmente adquirido em pequenas quantidades e de forma clandestina em casas de produtos agropecuários como raticida.
Como resultado, não só cães e gatos são intoxicados acidental e incidentalmente, mas crianças e adultos humanos também são vítimas. “É um veneno cruel, muito rápido, altamente letal e sem um antídoto específico”, explica Cledson Rezende, veterinário de Ouroeste (SP). Segundo o veterinário, mesmo se a substância não fosse ilegal, tem pouca utilidade para acabar com infestações de roedores. “Não é eficaz porque mata, quase que instantaneamente, apenas o roedor que se alimentou da substância, deixando livre todo o resto da colônia”, explica. Cledson incentiva toda a população a denunciar os pontos onde há venda do tóxico, assim como os casos de contaminação: “Informação e denúncia são o melhor caminho para evitar os envenenamentos”. (veja mais abaixo como fazer a denúncia)
Envenenamento por chumbinho: sintomas e socorro
Preste atenção se o seu cão ou gato estiver vômitando (muitas vezes com pontinhos pretos entre seu conteúdo – sinais de veneno), arqueado e com a barriga encolhida – sinais de fortes dores abdominais -, cambaleante (atarexia) e com salivação intensa. Ele provavelmente foi contaminado por chumbinho e é preciso correr para o veterinário. O próximo passo é o estado de convulsão e qualquer segundo pode ser decisivo entre a sobrevivência ou morte do mascote.
No Brasil, um dos últimos cinco países da América do Sul que continuam a comercializar o Temik 150, a campanha pela proibição da venda do agrotóxico é encabeçada pela Sentiens Defesa Animal por meio de procurações e ações junto ao Ministério Público. Também existe um projeto de lei com o mesmo objetivo (leia o PL 7586/2006), que no entanto está parado.
Domiciliação
Envenenar animais é crime e dá cadeia (artigo 32 da Lei dos Crimes Ambientais N° 9.605/98), mas pessoas intolerantes e criminosas, que têm animais de companhia como alvos, agem de forma covarde: escondem a substância letal dentro de algum petisco saboroso deixado no caminho por onde bichos costumam passar. Por isso, manter o animal dentro de casa, na segurança do lar, é a única forma realmente segura de evitar o risco desse grave acidente. Para os gatos são importantes ambientes telados para evitar fugas. O passeios ficam reservados aos cães, que devem estar sempre acompanhados de seus proprietários, sem esquecer da guia e da coleira. Muita atenção para que ele não coma nada de estranho na rua durante o trajeto. Algumas ongs e protetores de animais defendem ainda que os cachorros fiquem em quintais localizados nas partes traseiras das casas, de preferência em áreas cobertas.
Que tem um cachorro que late muito e que incomoda os vizinhos (um dos pretextos dos assassinos em potencial) pode consultar um especialista em comportamento animal. Os latidos em excesso têm diferentes causas e na maioria dos casos podem ser amenizados .
Uma questão de justiça
No caso de envenenamento intencional de animais de companhia, a Polícia Militar Ambiental só pode agir em caso de flagrante delito (enquanto a contravenção está acontecendo), nos demais casos, as denúncias devem ser feitas para a Polícia Civil, responsável pelas investigações.
O Tenente Marcelo Robis, porta-voz da Polícia Militar Ambiental, explica como aumentar as chances de punição do envenenador: “Se o animal sobreviver, obtenha laudo de médico veterinário, no menor tempo possível, que constate o envenenamento por chumbinho, depois procure um distrito policial e narre o cometimento do crime. Indique o autor, se tiver absoluta certeza, com as devidas provas, e uma delas será o laudo que constate o envenenamento”. Segundo o oficial, nos casos de morte do bichinho, há a possibilidade de refrigerá-lo e encaminhá-lo ao distrito, narrando o fato e solicitando laudo pericial da polícia técnico científica. É importante ligar antes para a delegacia, para informar-se sobre a melhor maneira de agir.
De acordo com o Tenente, as evidências mais importantes são as que confirmam de que se trata de um envenenamento de fato, quem foi o autor e se ele agiu de forma intencional. Além do laudo veterinário e das testemunhas, a ARCA Brasil recomenda que sejam captados registros (áudio, vídeo e fotografias) que associem o culpado ao crime, iscas e restos de invólucros de chumbinho .
Reunir provas suficientes para indiciar um culpado não é tarefa fácil e o aparato policial responsável por este tipo de crime é ainda precário, por isso, embora esteja se formando uma jurisprudência em casos de maus-tratos, pode ser muito difícil conseguir que os culpados tenham a devida punição. “Sem o apoio da justiça fica difícil coibir este tipo de crime. Denunciar e lutar por justiça é muito importante, mas a melhor prevenção ainda é a domiciliação dos animais, com maior atenção para os gatos, principais vítimas desse tipo de crueldade”, declara Marco Ciampi, presidente da entidade.
Como denunciar
Venda de chumbinho: A Agência Federal responsável por receber e dar seguimento a estas denúncias é a Anvisa, que pode ser contatada por sua Ouvidoria no e-mail ouvidoria@anvisa.gov.br ou pela Gerência Geral de Toxicologia (toxicologia@anvisa.gov.br). De acordo com o órgão, todos os dados são mantidos em sigilo e a identificação não é necessária. Não deixe de relatar também à Vigilância Sanitária (por meio do telefone 156) e à subprefeitura do seu bairro.
Quem vende Temik 150 a clientes não cadastrados ou fora dos estados da Bahia, Minas Gerais e São Paulo, assim como agricultores que desviem ou repassem Temik 150 ou qualquer outro agrotóxico de sua lavoura ou propriedade para ser usado com outra finalidade também realiza atividade ilegal e deve ser denunciado para a Anvisa pelos métodos descritos acima.
Fonte: ARCA Brasil