A idéia surgiu entre alunas do curso técnico têxtil de uma escola profissionalizante, que analisaram as propriedades físico-químicas dos pêlos de diversos animais para saber qual deles se aproximava da lanugem das ovelhas. E a conclusão foi mesmo o danado do poodle.
A invenção ainda encontra resistência das pessoas, que acham o pêlo de cachorro menos nobre. Embora haja aceitação da indústria têxtil para a produção em escala para humanos, a lã de poodle, por enquanto, só é usada para roupinha de animais, que custam entre R$ 20 e R$ 100.
Entusiasta do projeto, o orientador, Renato Lobo, já usa um cachecol de pêlo de cachorro. "Tornamos o lixo em luxo para os animais, e passamos a fazer roupinhas para qualquer tipo de bicho", diz.
"Em mim não deu nenhum tipo de alergia. As pessoas têm preconceito e dizem: "ah, é pêlo de cachorro'", completa Lobo.
E aquele mau cheiro forte de bicho, não fica no tecido?
"Os pet shops tosam antes de lavar o animal e, no começo, o cheiro é horrível, mas depois do tratamento químico, saem o mau cheiro e as bactérias", diz Ellen Taís Santana, uma das alunas que participaram do processo de pesquisa.
Pulgas
Da lã canina, já saíram malhas, tricôs, crochês e tecidos planos. Hoje, a turma tem em estoque três toneladas de fios prontos para a produção comercial em escala.
Antes do tear, uma triagem é feita no pêlo para retirar impurezas, como fezes e pulgas.
E vale misturar todas as cores de pêlos de poodle, do preto ao branco, que, depois do tingimento, são descoloridos. Curiosamente, diz Santana, os pêlos do poodle gigante são os melhores, porque são mais compridos e "novelam" (enroscam) menos.
Segundo a escola, o Brasil tem uma população de cerca de 5 milhões de poodles, ou pouco mais de 17% de todos os cachorros do país. Para um rolo de 1,5 kg de lã são necessários três poodles de porte médio. E um único cão dá, em média, entre 500 g e 700 g de pêlo por ano nas tosas. "Seriam 2,5 milhões de quilos de pêlos de poodle", comemoram os alunos.
"Imagina se alguma "maison" vai usar pêlo de cadela para fazer casacos", desacredita a publicitária Ana Lúcia Fernandes, que na tarde de sexta levava o poodle Gabriel para passear na praça Buenos Aires, conhecido reduto para encontro de cães em Higienópolis (região central). "Ai, que nojo."
E se a lã de pêlo de cachorro causa estranheza em alguns, o que pensar de um lanche de pão de jaca, recheado de mortadela de tilápia e com sorvete de couve de sobremesa, outras invenções inusitadas dos alunos da escola profissionalizante, exibidas numa feira científica na semana passada?
E enquanto os pêlos de poodle não caem no gosto popular, os idealizadores cogitam uma fashion week só com tecidos de lã de cachorro.
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